Terça-feira, 10 de Julho de 2012
Terça-feira, 21 de Março de 2006
Um poema de Cesariny. E recomendamos a quem não viu que não perca o documentário autografia, de Miguel Gonçalves Mendes, sobre este poeta.
PASTELARIA
Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura
Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio
Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante
Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício
Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola
Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come
Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!
Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo
No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra
de Nobilíssima Visão, edição da Assírio e Alvim
" Um Dia assim "
São belos os dias azuis como esta folha...
Contrastam os dias cinzentos e escuros,
Como os tons das páginas interiores de um jornal.
O que pensarei hoje?
Será o dia igual? Sempre igual?...
É bela a luz, como a luz de um amor puro...
Lutemos para que esta luz não se apague.
E se um dia se apagar??
Desfolhamos um jornal?
E a luz será igual?
Esvoaçam os sons da água e do vento...
As pombas soltam-se do coração.
A ferida!?... essa fecha-se de alegria e sentimento.
Sem medo, já o dia escurece.
E esta folha azul, azul permanece.
( Auros Fontes )
cortar
arder
intoxicar
revólver frio junto à pele
bala quente que penetra
extinção
inexistência
a busca do Nada
Virgínia Gomes
Ser Velho
Estou a ser "velho" pela primeira vez !
Nunca antes o fora...
Na minha terra,
com certa ternura,
sou "kokuana" ou "madala".
Mas tanto me faz !
Nesta inexperiencia porque passo,
e avassalado pelo inconformismo,
julguei mais facil se-lo.
A rugas na cara
e a cor dos cabelos,
faz com que injustamente,
me despromovam na consideracao,
me degenerem as habilitacoes,
me reduzam a idoneidade,
se escusem do meu convivio
e isso,
pior que a degradacao do fisico,
as rugas na face,
ou cor dos cabelos,
MAGOA
e faz com que ser velho seja dificil
e prejudique em muitos casos,
a relacao com quem assim me trata ...
Naia Marques
Hoje, apetecia-me falar de amor...
Há dias assim... procuram-se histórias no interior...
Buscar as palavras mais belas...
Pintar a loucura, a paixão, colorir negras telas...
Hoje, como ontem... apetecia-me conversar...
Dizer por dizer... coisas sem ninguém escutar...
Ontem como amanhã... o silêncio que invade o coração...
Persistirá... presente... na ausência dessa invasão.
De tempos a tempos... escuto... sinto...
Este vazio... que reanima, depois de extinto...
Que me preenche... com inúmeros nadas...
Que me deixa, livremente de mãos atadas.
(Luz ao fundo...) ávido por um olhar...
Entro em túnel com vista para... amar...
Às paredes... meus sonhos vão segredando...
Os medos... os pesadelos... que vou guardando...
Ontem, como hoje... nasci de novo...
Hoje... como amanhã... morro...
Reencarno agora, novamente em mim...
E parto... para futuro com idêntico fim...
De mãos livremente atadas...
Repito-me...
De mãos livremente atadas...
Há sempre uma liberdade...
Há sempre uma verdade...
Há sempre... uma eterna saudade...
Para dizer... (o que disse na intimidade)
Filipe M.
MENDIGO
Para que me serve ter memória,
Quando vivo esta triste história.
Nada é como contavam os antigos,
Pois o amor faz-nos sentir mendigos,
Esquecidos numa qualquer esquina de rua
Que bem podia ser a tua.
Protegendo-me do frio e da dor,
Vivo debaixo deste velho cobertor,
Implorando a Deus outra oportunidade,
Outra vida, um resquício de sinceridade.
Mas continuo perdido na recordação,
Suspenso e indigno de consideração,
Pelos que por cima de mim estão a passar
Com o único objectivo de me pisar.
Sou somente o momento de um solstício,
Um zé-ninguém, um mero desperdício,
Uma mentira cheia de verdade,
Branca escuridão na mais negra claridade.
Não sei como irá ser a continuação
Desta solene e infeliz oração,
Que é viver uma vida sem alguma paixão,
Num mundo sem a mínima compaixão.
Dias Miguel (Pseudónimo)
Pedinte
A linha do horizonte que fitas
è marcada por pés a passar.
Há uma linha cortada na mente
que nenhum nó pode reatar.
O que pedes é um bem menor
Daquilo que desejavas alcançar.
Onde ficou a ponta do liame
Qua te prendia à vida e fazia amar?
Março 21.2006
Solidão sofrida
Viajo só... perdida no infinito!
Flutuando numa vasta imensidão...
Prendendo todo o meu espírito,
Numa fria e obscura solidão.
Quebro as barreiras do pensamento...
Vagueando...desconhecendo o fim...
Deixando meu coração num tormento,
Invadindo o mais profundo de mim.
Sombras, que trazem sofrimento...
Amarguras, no meu peito sentidas,
Devorando um sólido sentimento
Vivido em escassas horas perdidas.
Luisabela Coutinho
Amanhã serão colocados online os restantes poemas enviados pelos utilizadores. Obrigada pela participação, e fica a sugestão de comentarem os textos.
Não sou Poeta
Não sou poeta nem nunca
poderei ser
Apenas digo o que sinto
não minto
Não sou poeta
pois não articulo palavras cativantes
só digo lugares comuns que
se desvanecem ao primeiro confronto
Não sou poeta com grande
pena minha
porque amo as palavras belas
não sendo retribuido por elas.
O condão de brincar com as palavras
não herdei
Penso apenas no que poderia
dizer se a tal felicidade
podesse aceder
Não minto
digo o que sinto
José Luis Martins
“Partilhando a Primavera”
Descobri
que tinha asas
mas não sabia voar.
Olhei para o céu
aves aos bandos
brincavam lá no alto.
Sentada
no meu cantinho
sorria maravilhada…
Estava viva
as palavras iam …
sopradas pela NET,
mundo fora…
Afinal:
Poesia – voar - escrever
pensar - fazer – NET –
tão simples … viver.
Bé
Lisboa 2006-03-21
chuva
Caie pelo vidro sem pressa,
ele tem o frio do meu ventre.
Não me interessam as novas vozes do vento
nem o soluçar de uma lua perdida,
procurando-me em todos os caminhos.
Escorri fria e líquida pelo vidro da janela
e rolei na bola verde de um menino, esquecida na rua.
Parei aqui, sem música, só com muito frio
e rio-me, molhando os pés de quem passa.
Escondo-me nas ervas do passeio
só para a lua sofrer...
procurando-me toda a noite sem me ver
e eu muito quieta
ensopando todos os pés, na rua triste.
Asiul
As palavras deste Mundo
São tantas as palavras deste Mundo
Tantas… que as não posso apanhar
São notícias, são anúncios, são livros e jornais
Tantas outras coisas mais
Que eu e ninguém as pode parar.
Mas se num instante de um segundo
Suspendessem todas as palavras deste Mundo
Eu seria gente, eu seria luz a brilhar
Porque nesse instante de um segundo
Todos me estariam a escutar.
F. Salgado
Lágrima
Um grito carmesim partiu-se sobre a mesa
e uma palavra, essa palavra - amor -
deslizou suavemente dos teus olhos.
Apanhei-a, salgada, da fonte dos teus lábios,
como relíquia sagrada duma cruzada antiga,
e inteira a senti fender-me o coração.
Era de morte essa palavra que me davas
(uma orfandade imperdoável).
Pensei, quase alegre da tua dor tão pura,
na suprema beleza dessa lágrima que agora
silenciosamente se via libertada.
Pudesse eu chorar os choros que em mim vão
Competir com o mar, inundar a planura,
desfazer os nós desta dor de antes de mim.
Pudesse uma lágrima silenciosamente deslizar
Acariciar-me as faces abrasadas.
Oh! Olhar tão azul onde me afogo
chora por mim também a dor que te partilho
que quem chora já não sofre, trespassa o sofrimento.
José Pestana Cruz
HOMENS DO MAR
São Homens
Não são uns Homens quaisquer
São Homens de Coragem
Juntam-se no cais a preparar a Viagem
É assim dia após dia…
Cosem as redes, preparam a Pesca
Com a alegria de quem vai a uma festa
Levam roupa forte e pesada
Vem aí mais uma noitada
Lançam redes cheias de Esperança
Como quem espera uma criança
Ouvem o mestre gritar:
- É hoje!!
Hoje é que vai dar!!
Agora já não podem parar
Têm que continuar…
O Grito do Mestre deu-lhes alento
Rompem as ondas, cortam o vento
É o desejo das redes puxar
O prazer de ver o peixe saltar
A faina nem sempre acaba bem
E nem sempre o peixe vem
Regressam a casa carregados do nada
Depois de uma noite estafada
Amanhã…
Amanhã voltam a preparar a Pesca
E vão com Alegria,
como quem vai a uma festa…
Quis
Quis voltar
e fiquei.
Quis perder
e venci.
Quis sonhar
e acordei.
Quis ser criança
e cresci.
Quis chorar
e sorri.
Quis começar
e acabei,
por não
saber o que queria de mim.
José Miguel Costa
in livro de poesia " Contradição" editado por Mercado de Letras no ano
passado.
uma hmenagem feita á poesia
de que tanto nos orgulhamos
porque nela se transmite e transmitia
a arte que descobrimos um dia
para transmitir o que pensamos
neste pequeno verso deixo
um pouco do meu versejar
mas com ele quero homenagiar
o celebre poeta popular
o nosso António Aleixo
vai este poema dos açores
abraçar-vos concerteza
levando consigo lindas flores
das mais variadas cores
que nos deu a natureza
assim mesmo de improviso
entrei convosco na brincadeira
mandando um abraço do Narciso
filho da linda Ilha Terceira
Narciso Lopes
21-03-2006
De noite: não te grito
Não te grito, nem te cheiro
Quando as águas correm desabadas
Do alto do teu corpo
Feito cimento cru, feito osso.
Se fosse real teu inimigo
Haveria de pendurar laranjas
No limoeiro do quintal em frente
Poderia dizer-te as estrelas todas do caminho feito regresso
Morte
Não, nesta noite
Ainda haverá olhos atentos e poços deitados onde a água
Não se cansa dos buracos
Palavras rente ao silêncio dizer-te
Não, não te grito, nem te cheiro
E, quando caíres do alto dos nossos beijos
Como as beatas acesas dos dedos amarelos
E defronte o precipício ouvires gritar o meu nome
que não tarda:
já será dia nas luzes das candeias
pu-esia onde onde que eu naõ vejo
Há está aqui carago....
Jaime Pacheco
Os meus jogadores são uns senhores !
Os meus jogadores são umas flores !
Os meus jogadores confundem a bola com as canelas…
E quando chutam forte, aí é que são elas !
Já me quiseram em Espanha, mas lá não sopram bons ventos
Gosto disto aqui: a porrada estimula-me os pensamentos !
Já fui caceteiro, aprendiz de feiticeiro e até campeão
Só para artista da bola não tenho vocação !
Quantos são ? Quantos são ?
Venham de lá as canelas, e haja paixão !
-- OS TEUS LÁBIOS --
Sinto-me esquisito
E sabes porquê?
Porque me sinto inspirado para escrever.
E quando estou inspirado
É porque estou a pensar em ti,
A pensar como és bela,
Mesmo quando estás aborrecida ou triste.
Mas eu acho que nunca te vi triste,
Ou penso que nunca estás triste,
Porque estás sempre com um sorriso nos lábios.
Sim, esses teus lábios estão sempre a sorrir.
Dão-te uma expressão divinal,
Pois tu és a minha ninfa do amor,
És como Vénus.
No entanto, por vezes, sinto-me triste,
E então também escrevo.
Escrevo para desabafar,
Porque acho que este é o melhor meio de desabafar.
Mas se me sinto triste
Penso em ti
E toda a minha tristeza desaparece.
Basta imaginar-te a sorrir,
Porque o teu sorriso
É como uma palavra de conforto.
Uma palavra de conforto
Que preferia ouvir dos teus lábios.
Os teus lindos lábios
São o que eu mais gosto em ti.
O meu desejo é poder beija-los um dia…
Liga-me sempre
e diz "Bom dia" simplesmente,
e só por isso, todo o meu dia vai mudar:
pensarei em ti intensamente,
e ficarei com um brilhosinho no olhar.
vi-te perdido no meio de um ambiente hostil e desconhecido
vi-te sentar no teu conhecido temendo não encontrar apoio
vi-te baixando a escuridão omitindo o receio de não ser aceite
e porque não sei como encarar a novidade
não consegui sorrir ao olhar para ti ergui defesas
quando falaste no passado
vi-te chegar temendo segundas impressões
vi-te erguer os olhos com mais confiança
vi-te percorrer caminhos mais definidos
elevar a voz chamando a atenção
pegar nas rédeas do desafio esquecendo outras realidades,
mostrando-te
vi-te a encontrar um pretexto de agitação
vi-te defender a tua posição de autoridade
vi-te disfarçar o medo atrás do discurso existencialista
sorri-te para te dizer que estavas lá
estranhaste o conforto tremeste...
mas acreditaste
vi-te soltar o terror e o cansaço
vi-te na luta pela normalidade
vi-te entranhar um ambiente
rendido à evidência do teu carácter
vi-te verbalizar a segurança
e derrubei as tuas certezas na situação
mostrando-te que é preciso mais
vi-te entristecer ao acordares da ilusão
vi-te compreender que o discurso tem de ter mais do que palavras
vi-te calar as sensações da estabilidade
vi-te estranhar a concentração
vi o teu silêncio aterrado pela confusão
talvez tenhas tentado compreender
não vi
talvez tenhas tentado sorrir
não vi
afinal talvez nem te tenha visto procurar nada
apenas queria companhia
na minha busca solitária...
Sónia Sebastião - Outubro de 2005
http://kisamoss.blogspot.com
Nesta vida sem amores
Mas que de amores me trespasso
Para ter um pouco de amor
Faço lá seja o que for
E até nem sei o que faço
E cá dentro do meu peito
Em carne mais viva que eu
Há sempre um amor, perfeito
Que sendo meu, por direito
Acaba não sendo meu.
-
Conferência sobre Bocage no Barreiro, às 21h00
-
Casa Fernando Pessoa: a pianista Sofia Lourenço toca J. S. Bach e alguns poetas - como Adília Lopes, António Osório, Fernando Pinto do Amaral e Pedro Tamen - lerão poesia.
- Na TSF (
ouça aqui em directo), a emissão será intercalada por poemas ditos por Fernando Alves e Maria do Céu Guerra.
- Recital de poesia no
Bar a Barraca-
Poesia à Mesa, em São João da Madeira
-
Exposição 'Olhar a Poesia': autores de língua portuguesa vistos pela pintora Ana Marques.
Conhece outras iniciativas? Envie-nos um email para
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La femme de trente ans
Amarás
o meu nariz
brilhante
as minhas estrias
os meus pontos pretos
os meus textos
os meus achaques
e as minhas manias
e as minhas gatas
de solteirona
ou não me amarás
Adília Lopes
Há muitas citações famosas de poetas que usamos no dia-a-dia para argumentar ou para dar um toque especial a uma conversa (ou mesmo em manobras de sedução). Mas será que o poeta tem razão no que diz?
Por exemplo:
Tudo vale a pena se a alma não é pequena.
(Fernado Pessoa, Mensagem)
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Num país de poetas, semi-poetas e grandes suspiradores com alma de fadista, há muitas gavetas cheias de versos à espera de um leitor. Se não, pense que já começou a Primavera e inspire-se.
Iremos seleccionar alguns entre os que forem enviados e publicá-los aqui. Escreva-nos para
diamundialdapoesia@sapo.pt.
Se não pretender que o seu nome seja publicado, por favor diga-o no email que enviar.
Em dia comemorativo, vai haver certamente muita generosidade para com a poesia.
E afinal, para que serve a poesia? Deixe a sua opinião na caixa de comentários.
Sabes, leitor, que estamos ambos na mesma página
E aproveito o facto de teres chegado agora
Para te explicar como vejo o crescer de uma magnólia.
Daniel Faria, Dos Líquidos